domingo, 11 de janeiro de 2009

Reinventando o Arco-íris

Inspirado no filme “A Massai Branca”

Era uma vez um lugar onde as palavras não podiam sair pela boca, pois elas lá não existiam, podiam ser ditas apenas pelos olhos, que mudavam de cor, conforme a cor do sentimento que enchia o coração.

Nesse lugar só as cores da natureza podiam encher os olhos (dos dois jeitos), de maneira que era preciso prestar atenção a todo o resto em volta e olhar o outro com o cuidado de quem vê se o vermelho dos olhos é como o de um pôr-do-sol: cheio de luz, alegria e esperança; ou como o de sangue, vivaz, passional, intenso, para o bem ou para o mal.

Ao se trilhar os caminhos, era possível ver olhos de todas as cores, amarelos de apatia ou fome; carmim de paixão ou ira; violeta de força e profundidade; azuis tranqüilos; negros enigmáticos ou ressentidos; olhos verdes de frescor; olhos dulcíssimos de mel... quando se sofria de amor ou deslumbramento os olhos ficavam cor de rosa ou laranja!

Tanto eram informantes obscenos que lá não se fitava os olhos dos outros impunemente, acreditava-se que ao fitar os olhos do outro acabavam por imiscuírem-se as almas.

Eis então que o acaso bole com a possibilidade e faz o encontro, nessa terra muda, do dia branca e da noite preto. Estes, habitando o mundo dos olhos coloridos, encontram um no outro a chance de tocarem todas as cores, visto que eram a antítese um do outro e continham neles mesmos as cores para serem todas as cores!

Desejaram tocar-se no momento exato em que se viram e seus olhos refletiram a cor de um nos olhos do outro. Não havia palavra, não havia passado nem futuro, havia apenas todas as cores do mundo em ebulição, no caldeirão imenso do tempo que não mais passava, pois a noite e o dia não mais passavam um pelo o outro.

Só tem, que se o tempo não passa não se curam as feridas, não crescem as crianças, não nascem nem morrem os amores dos homens... a alegria não sucede a tristeza e o ciclo pára. Assim o dia e a noite tinham de passar. A natureza morria num mundo sem tempo, e com ela as cores dos olhos...

Amaram-se refletindo nos olhos todas as cores... Despediram-se.

Veio o silêncio.

E desabou do céu preto uma tempestade de tristeza e saudade... em seguida irrompeu o dia branca, por entre os restos de tempestade. Nasce então, do amor entre o preto e a branca, o arco-íris!!!

Toda vez que sentem uma saudade transparente, assim da cor do gelo, o céu, com a desculpa de uma tempestade, anoitece preto e chora muito, em seguida, com a desculpa de que “depois da tempestade sempre vem a bonança”, o dia irrompe trazendo a branca!

Fazem amor, num intervalo que nem se dá a conhecer aos homens, nasce o arco-íris, pacifica-se o mundo. O arco da promessa sim, o arco da promessa de um amor indescritível por palavra, que a despeito das impossibilidades se vê acontecendo!



Todos os amores são singulares, mas o amor sem palavras, sem explicação ou razão de ser, é único porque tem cores que só se vêem onde não há palavras para descreve-las.






Elisangela Batista Barbosa

3 comentários:

  1. I see your true colors shining through! ;-)

    Que bom ver você escrevendo em tantos matizes!! É um gozo e um desafio instingante ocupar este espaço com você!

    Ainda bem que comporta todas as cores ;-), pois há os dias em que a palavra está pálida, sem sangue a nos corar a face...

    Fica também a convocação para criarmos um forum peramente de resenhas de livros, filmes, músicas... Que tal? Vamos lançar oficialmente? A estréia não podia ter sido mais deslumbrante!

    Beijos, querida,
    Roberta

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  2. Minha querida, o que eu posso dizer... somos apreciadoras uma a outra e sim, isso é instigante!

    “pois há os dias em que a palavra está pálida, sem sangue a nos corar a face...” – de onde saiu isso? Genial, exatamente assim!

    Eu concordo com o fórum permanente e já vou logo pesquisando como podemos fazer para dar uma marcação especial aos textos que se referirem aos filmes, certo!

    Inclusive o que você acha de começarmos colocando no ar uma certa troca de idéias que tivemos sobre o clássico “Asas do Desejo”, já está tudo lá, escritinho!!!

    Beijos linda e obrigada!

    Elis

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  3. Lindo texto, criativo, inspirador.Muito bem explorado, inspirador. Acho que toda vez que eu vir um arco-íris vou lembrar desse texto. Parabéns o blog é muito bonito.
    Abraços, Elaine.

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