quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Na manhã do dia Seguinte

Tudo era calmo e o mundo parecia bem ter chegado a um tempo e lugar onde a vida seguia tranqüila seu fluxo de natureza.

De maneira que as pessoas espalhavam-se estrategicamente pelos cantos da praça onde uma sombra amiga as protegia e acalentava, enquanto as crianças, que ainda não são pessoas, mas anjinhos barulhentos, brincavam com seus brinquedos de natal e tinham os cabelos desgrenhados ao vento – estavam libertas.

Até os carros, em sua maioria, fizeram o favor de ausentarem-se do circuito. Pairava um silêncio estranho (por não ser usual) que dava a sensação de os pensamentos estarem sendo pensados em volume alto, falavam conosco mais alto que de costume.

Na manhã do dia seguinte, hoje, o ar parecia mais limpo, o dia parecia condescendente para com os homens que já não disfarçavam seu cansaço, sua ansiedade e sua esperança doída de que o ano que começa seja melhor que o que termina, a despeito de eles não terem a menor idéia de como contribuir para tanto. Hoje tudo fazia lembrar de que este é o primeiro dia de um ano novo que já chegou, tornando os prazos apertados, as atitudes urgentes, as decisões prementes, as mudanças obscenas...

A vida pulsava irremediavelmente no seu ritmo e todos pareciam resignados apenas, e eu tive então de questionar: é isso? É só isso que se me apresenta no dia de tua inauguração?

....

Eis que tomei por resposta a cena que se passou diante dos olhos de quem quisesse ver, como a descrevo em seguida:

Eram dois, regulando seus 17 anos caminhavam de mãos dadas, ambos de porte atlético e tez morena. Seguiam como que carregando o astro rei na barriga e todas as paixões no peito, com bem pouca roupa cobrindo o corpo. Sérios, sentindo-se já homem e mulher, feitos à imagem e semelhança um do outro, de modo que eram cúmplices, talvez por isso não sorrissem... Chamou-me a atenção sua seriedade, nenhum sorriso, apenas um caminhar, que de tão unido fazia-os parecer um.

Quando de repente, muda, ela lhe lança o desafio e (finalmente!!!) um sorriso! Com um meneio de cabeça aponta uma das escadarias de Santa Teresa e dispara numa carreira que me tirou o fôlego! Antes que a negativa dele pudesse ser notada ela já alcançava larga vantagem na distância, fazia-se necessário alcança-la e por isso ele também dispara.

Quase a alcança e nesse quase ela solta um gritinho como o fazem as meninas arrebatadas de alegria e excitação, arrancando dele mais energia ainda para alcança-la de vez... ao chegarem ao topo ele lhe agarra a cintura e ambos se entregam às gargalhadas que lhes agita o corpo vivo... eles estavam vivos!

Entendi, estavam vivos, esteja viva, mantenha viva... ok, acho que posso fazer isso!
- Elisangela Barbosa

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