quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A Lucidez Amarela

Por Roberta Mendes

Não tenho suficiente conhecimento de botânica para afirmar, se o fato de uma folha tornar-se amarelada significa, necessariamente, que esteja seca, a caminho, portanto, de desprender-se. Será, possivelmente, o caso nesse gênero de árvore, enquadrado por este ângulo particular da janela, em que a copa verdejante se faz pintar, aqui e ali, com salpicos amarelo-alaranjados.

Estes “spots”, justamente, é que chamam a atenção, pela descontinuidade do verde que representam. São poucas e esparsas folhas, cercadas pelo verde isolamento. Sequer têm o conforto de serem amarelas entre suas iguais.

Pois quero crer que essas folhas ousam o louro que têm e não apenas que aquiescem a ele por inexorável decurso das estações: são amarelas contra uma lógica verde dominante.

Seja a elas reconhecido o mérito da diferenciação, eis que romperam com o mimetismo dócil à harmonia totalizante. E não é fácil expor-se assim, em cor berrante e cítrica de coisa toda em destaque. Não é fácil ser em evidência.

Não é que duvide de que o processo até o fulvo desfecho seja, de fato, desgastante, tampouco seria incorreto supor que o amarelo em tão convicta vibração seja o último arroubo de uma grande força vital, extenuando-se, mas é que das folhas, assim de vê-las, ficou-me a impressão mais da atitude que do cansaço. Pouco importa o tempo que dure a dourada glória, se estão secas, se devem, em breve, desprender-se. Também, o que hão de temer ante ao outonal destino, se tiveram, em vida, a transgressora bravura para a autenticidade?

2 comentários:

  1. Bravura, virtude dos que não desistem nunca, até cansam, mas mesmo no seu cansaço a atitude é de fato o que fica, o que marca.

    ResponderExcluir