terça-feira, 30 de dezembro de 2008

E a propósito de artifícios...

Não, eu não estou infensa ao "inferno astral" coletivo do fim do ano. Afinal, é a data estipulada para o, digamos assim, aniversário do mundo, pelo menos do mundo ocidental, que adota o calendário cristão, tal como o conhecemos.
Assim é que, em breve, nascerá 2009, como todo ano novo, parido, em algazarra de fogos, impreterivelmente à meia noite do dia 1º de janeiro, o que lhe torna, (constato), incorrigivelmente capricorniano – que é signo de elemento terra, regido, por vocação à metáfora, por Saturno – o deus do tempo.

É, deve ser mesmo isso: nessa época do ano somos acometidos, universalmente, pela decantada melancolia saturnina, o que nos torna mais reticentes, mais introspectivos, mais propensos à reflexão.
O sintoma mais recorrente dessa melancolia de fim de ano são as famigeradas listas de intenções para o ano seguinte, em que, não raro, constam, ao lado de prosaicos afazeres, projetos acalentados em segredo (ou não) por uma vida inteira.
E, de repente, tudo o que não conseguimos fazer até então, ao longo da soma inexata e personalíssima dos anos de toda uma vida, queremos realizar em doze corridos meses do (inalcançável, pois sempre por chegar) ano que vem. É o curso de percussão ou de eneagrama, o mestrado em contratos ou a especialização em produção cultural, a aula de yoga, de dança de salão, ou quem sabe até de capoeira! Para uns, o casamento. Para outros, o primeiro filho. Ou a decisão de um segundo filho. Ou mesmo o filho que nem se esperava chegar.
O problema é, possivelmente, que esperamos do ano que vem o que não poderíamos esperar senão de nós mesmos, pois realizações pressupõem atitudes, que pressupõem escolhas, que, por sua vez, pressupõem renúncias, que pressupõem disciplina, que pressupõe FOCO. Esperamos que o ano eleja nossos prazeres por nós, nossos parceiros por nós, às vezes até nossa profissão por nós, que o ano nos indique, como se a ele coubesse, o caminho, à moda dos lances de dados.
...E nem mesmo nos damos conta de que esse gênero de aposta tem a agourenta alcunha de jogos de azar...
Por um ano em que nossas conquistas fiquem menos a cargo do acaso - o meu brinde!
Roberta Mendes

O TEMPO DENTRO DO ESPELHO
Por Thiago de Mello

"O tempo não existe, meu amor.
O tempo é nada mais que uma invenção
de quem tem medo de ficar eterno.
De quem não sabe que nada se acaba,
que tudo o que se vive permanece
cinza de amor ardendo na memória.

O tempo passa? Ai, quem me dera! O tempo
fica dentro de mim, cantando fica
ou me queimando, mas sou eu quem canto
eu que me queimo, o tempo nada faz
sem mim que lhe permito a minha vida.
De mim depende, sou sua matéria,
esterco e flor do chão da minha mente,
o tempo é o meu pecado original."

3 comentários:

  1. Robertinha de Deus!!! Não vou resistir, vou levar esse poema comigo!!!

    Que coisa mais intensa!

    Beijos
    Elis

    ResponderExcluir
  2. Betinha, sua capacidade de escrever é extraordinária. Definitivamente, você deveria colocá-la em prática sobre outra perspectiva, a profissional.

    Não é justo privar o mundo, do deleite das tuas composições.

    Impossível se conter diante desse talento que transborda...

    Bjs, Kk

    ResponderExcluir
  3. KK,

    Mais uma vez, muito obrigada pelo carinhoso incentivo! Não estou bem certa quanto ao que escrevo ser de interesse geral, isto é, de interesse para aqueles que já não me queiram bem e que,por isso, olham com benevolência para as limitações do meu estilo. Mas, enfim, a exposição está sendo um exercício. De humildade mesmo, eu acho.

    Beijos,
    Betinha

    ResponderExcluir