sábado, 14 de março de 2009

Por Roberta Mendes

Era feliz. E agora o quê? Tal pensamento pareceu-lhe ter a imobilidade instável das cenas de certos filmes chineses, em que os personagens ficam suspensos por um átimo, medindo-se no espaço, antes de desferirem um golpe.

Sugestionada pela imagem, tentou antecipar o movimento de um seu possível adversário, se é certo que sempre há forças em oposição ao sonho que acalentamos. Ainda assim, sabia-se feliz. E inquietou-se. Intuiu com grande cansaço que tudo era fugidio. Sina dos mortais: temer a perda. Sem falar da preguiça de reconstruir-se, trabalho lentíssimo, a que sempre faltam pedaços...

E sem que nada, objetivamente, se alterasse em torno a ela, sentiu-se infinitamente miserável, a felicidade pulsando-lhe na palma da mão como o coração de um pássaro assustadiço, a que não é possível proteger para sempre. Por toda parte perpassava um agouro de predação.
...Ou foi só a lufada de vento que lhe enregelou a face?

2 comentários:

  1. Ah amiga, que saudade!!! Sabe que vc me sabe sem nem saber que sim? :O)

    Beijos,
    Elis

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  2. Que lindo Betinha, como tudo que você escreve! Depois me manda o link daquele rapaz que tem um blog que vc disse que é sensacional?! Bjos e saudades, Kk

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