domingo, 2 de outubro de 2011

Germínea - A Bulha dos outros

- Por Elis Barbosa

Tinha um desassossego, uma obstaculosidade de dormir, era bom deitar, a cama em flor perfumada de limpo-clareza, o ventilador sacudindo as cortinas, fazendo seu som de mosquito gigante. Quando os viu formados, achou muito disparate o maestro dos mosquitos ser máquina e ter tamanho tão maior que os outros, mas sem questão de dúvida fazia-se o mais afinado. Fechar os olhos era bom na hora que fechava, formava uma respiração que esvaziava o corpo largado de músculos agradecidos, e diziam que fazia crescer. Pois ao cerrarem-se as celhas ouvia os aplausos ao dia que já há tempos anoitecera, voltando mesmo só pela miragem das horas passadas para agradecimento de artista. Depois era silêncio e brisa, quando vinha de longe um crescente falatório contumaz.

Daí se fazia suplício adormecer em meio àquela atrapalhação, uma bulha de gente que não se via, do entorno conhecia os acordes, todos os acompanhamentos, sabendo bem que a conversação fora dele não estava naquele mundo. Juntada a impaciência, pingando fadiga, fechando qual dormideira, arrastou-se ao quarto da mulher tomada por guardiã na demanda de que os fizesse calar, porquanto aos seus pedidos davam pelotas, pondo-se a falar ainda mais um pouco. A resposta da mulher foi dos primeiros enganos que tentaram impingir-lhe: não havia nada nem ninguém a sondar a noite com barulhos.


A noite tinha barulhos como o dia ponto final


Esbugalhando-se insistiu nas evidências com a mão diminuta atrás da orelha de concha, ouve só, ouve? Nada, a mulher de olhos semicerrados sacudiu insana o gesto de quem ouvia um nada bem oco.


Acontece que ninguém ali versava do saber dessas contrariedades, ninguém atinava de ser primário para conhecer as conversas de outro mundo mais que ouvir, carecia auscultar. Tanto insistiu contra o absurdo constituído pela negação de fatos, que o homem duro, cujas aparições eram festejadas por demanda da mulher-guardiã, tomou para si o fardo daquele corpo e acolheu-o protetor em seu próprio abandono sonolento. Ele cheirava a mato e café, cujo sabor pressentia apenas, uma vez ser tabu sua ingestão por pessoas pequenas, tal qual o fruto do jardim de uma história que ouvia como a origem do mundo. O corpo peludo guardava um calor que não achava em mais ninguém e sua respiração era tão possante que parecia um vento só dele. Talvez fosse mesmo, ele sendo tão grande, tão forte e tão poderoso, talvez tivesse autorização de carregar um pedaço de vento consigo.

Tanto de tudo num homem unitário causava um querer espantoso, um assombro exclamativo, uma curiosidade admirada. Contidos naqueles músculos que sobressaltavam o couro quando de movimentos severos, havia a sonoridade de uma voz inconstante entre trovoadas e gorjeios, havia o domínio das alturas dos coqueiros, a mágica de levitar outros, e a exclusividade do poder sobre o fogo. Ele, mais nenhuma pessoa, podia tomar do chocalho frio de onde se faziam nascer as labaredas incandescentes, e atear fogo às folhas mortas.

Um comentário:

  1. Olá , passei pela net encontrei o seu blog e o achei muito bom, li algumas coisas folhe-ei algumas postagens, gostei do que li e desde já quero dar-lhe os parabéns, e espero que continue se esforçando para sempre fazer o seu melhor, quando encontro bons blogs sempre fico mais um pouco meu nome é: António Batalha. Como sou um homem de Deus deixo-lhe a minha bênção. E que haja muita felicidade e saude em sua vida e em toda a sua casa.
    PS. Se desejar seguir o meu blog,Peregrino E Servo, fique á vontade, eu vou retribuir.

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