segunda-feira, 12 de julho de 2010

Nine


- Por Roberta Mendes

Quando o filme acabou, tive um impulso de palmas, a que não cedi apenas por tê-lo assistido em casa, sábado à noite, faltando-me álibi para tão solitária catarse. O filme termina em um círculo perfeito: começando. O homem, trazendo a si mesmo ao colo, recrutando o menino interior para ajudá-lo a fazer seu agora difícil dever de gente grande: criar. (Quando é mesmo que tudo se torna uma obrigação?)

O menino é nele o que imagina. Ele: o que viveu. Palco de mulheres, mas será mesmo protagonizado por elas? Sabe-se ao certo apenas que as dirige. Mulheres-esquetes, às quais empresta a câmera do olhar. Por isso o filme é, todo ele, pespontado por um fio teso de desejo.

É por meio do desejo que se apropria delas, fitando-as, despindo-as, vestindo-as com fetiches de curvas, trejeitos, movimentos sinuosos. Impossível vê-las sem desejá-las. Desejar sê-las! Rica fauna de idades e estampas: maduras, louras, jovens, pálidas, morenas, brancas, cacheadas, despenteadas, cabelo em coque, de olhos azuis, negros, castanhos, doces, ardentes, travessos, fugidios, mulheres consumidas, idealizadas: musas.

Cobiço, através delas, o diretor que soubesse tirar também de mim o desempenho perfeito, que me vestisse de espartilhos, brilhos, que me esculpisse a silhueta em contraluz e me jogasse, enciumado e conivente, num mar de braços de outros homens, concedendo-me, ao menos, a forra irascível e despeitada pelo papel secundário em que me mantivera sua pouca imaginação de mim.

O homem e seus andaimes de coisa em construção, ocupado demais em criar-se. As mulheres, coadjuvando-o. Intrigando-o. Inspirando-o. Disputando nele o interesse do olhar, que as define.

Cuidado! Insidioso e sedutor, este filme manipula sensações e sabe exatamente aonde quer chegar: esquadrinha sem pudores o decote descuidado de uma alma, provocando emoções delicadas e insights, por vezes, perturbadores...


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