quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Aspirando zabumbas, tambores e triângulos, sentindo a brisa da terra que nos gerou e alimentou com sua poeira carregada de histórias que nos sacudiram o corpo e enxovalharam a alma, transportadas pelo som para nossas origens mais primitivas e viscerais trocamos:

De: Filha das Gerais
Para: Flor do Crato
Assunto: Chamada dos Santos Africanos
Amiga, que coisa incrível! Estou bem aqui amando o cordel bem todinho ele… mas quando entra na música cinco e minhas raízes se sacodem, num manifesto de pertencimento, arregalo os olhos e procuro na palavra escrita uma explicação para tamanho rebuliço... quando descubro: é o momento do chamado dos santos africanos... ah, entendi!
De: Filha das Gerais
Para: Flor do Crato
Assunto: Chamada dos Santos Africanos
Zabumba zunindo no colo de Deus… ai.... que tortura tudo isso dentro da imobilidade necessária neste lugar!
De: Flor do Crato
Para: Filha das Gerais
Assunto: Chamada dos Santos Africanos

Ontem era eu a dançante estátua, congelada em meus movimentos...a lágrima nem ousando molhar o chão seco, duplamente seco, porque infértil daqui... No Nordeste, pelo menos, o seco é latência. Aqui é suspensão (!)

De: Filha das Gerais
Para: Flor do Crato
Assunto: Chamada dos Santos Africanos
O que é o poeta Zé da Luz?! O que é o purtugûez correto dele???? MEU DEUS??? E esse é um brado louco querendo a liberdade!
De: Flor do Crato
Para: Filha da Gerais
Assunto: Chamada dos Santos Africanos
Vejo que te arrebatou!!! Que alívio...! Minha nordestinidade encontra ecos nas tuas geraes....!!
De: Filha das Gerais
Para: Flor do Crato
Assunto: Chamada dos Santos Africanos
Ah se encontra, a terra ecoa em quem é de terra sem que o nome dela muito importe... essa apropriação do idioma me deixa feliz, me soa como galhofa amiga de quem é de casa, de quem é íntimo... me lembra vovô, que sempre que se surpreendia com algo dizia de rabo de olho, meio riso num canto da boca, mineiríssimamente: “mai eu vô ti falá contigo, ói”. No fim das contas acho que ele também era poeta.
E ele fecha a porta no fim, como quem tira de mim o brinquedo mais querido dessa hora…
De: Flor do Crato
Para: Filha das Gerais
Assunto: Chamada dos Santos Africanos
Ah, a liberdade de dizer as coisas do interior (e olha aí o trocadilho de novo!) se traduz numa quase reinvenção da língua! É outra iconografia, são outras imagens as evocadas, são outros nomes para as mesmas coisas. Nomes que não se gastam, pela sua incorruptível espontaneidade. São todos poetas, eu acho! Veja o velho Mané Preto, neto de escravos no Ceará, que morava numa fazenda chamada “Direitos” (ai ai...) e que disse, para meu deleite, quando perguntado do que mais gostara em Fortaleza, que tinha sido daquele portão que se abria “por natureza”!!! Isso nos põe imediatamente reconciliados com o automatismo dos mecanismos! Já não via os portões automáticos com os mesmos olhos e, sim, com o carinho do mistério que tinham tido para quem ainda tinha olhos de ver o milagre das coisas. Afinal, já alertava Drummond:
“As coisas, que tristes são as coisas consideradas sem ênfase!”

Adoro as hipérboles do meu povo, a ligação direta para com a carga dramática e cômica de tudo, a síntese dos contrastes, a capacidade do riso e do choro, do choro gargalhado, do riso chorado, a capacidade de ter o coração úmido e fecundo na terra esturricada! Meu povo é da linhagem dos cactus, sobre os quais se lê assim na enciclopédia:

“Seus caules expandiram-se em estruturas suculentas verdes perenes contendo a clorofila necessária para vida e crescimento (...)”
Mais do que defesa, o espinho é um disfarce para a coisa toda tenra de que, intimamente, consistimos... Nós, do elemento terra, nós, do barro de existir, nós com as raízes enterradas até a seiva oculta da vida!
De: Filha das Gerais
Para: Flor do Crato
Assunto: Chamada dos Santos Africanos
Isso tudo lá no blog, planto eu ou planta tu? ;O)
De: Flor do Crato
Para: Filha das Gerais
Assunto: Chamada dos Santos Africanos
Plantações à parte, colheremos juntas e é isso que importa ;-)

2 comentários:

  1. Fiquei curioso para ouvir a música cinco!
    Diálogo interessante,exprimindo sensações e impressões despertadas por manifestações tão simples e tão rica ao mesmo tempo.
    Elis, me deves a música cinco!
    Beijo, minha querida!
    Elis e Roberta: este blog é leve, alto astral e repleto de sensibilidade. Parabéns!!!
    Essa mistura de Minas com Ceará está dando um caldo!!!
    DANI

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  2. QUerido!!! Que bom que veio! Nao se preocupe que vou mostrar-lhe essa preciosidade, ou como diria a Martinalia, essa pretinhosidade!
    Beijos e esteja sempre aqui!
    Elis

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